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Sexta-feira, 26 de maio de 2000

Radiografia crítica do País conquista jovens
Recomendado pelas escolas, 'Cronicamente Inviável' atrai cada vez mais estudantes
Divulgação
'Cronicamente Inviável', um retrato incômodo de brasileiros de Norte a Sul
BETH NÉSPOLI

Desde a estréia de seu primeiro longa-metragem, Maldita Coincidência, em 1980, o cineasta paranaense Sérgio Bianchi luta contra o rótulo de maldito, contra a pecha de artista talentoso e rebelde, autor de filmes viscerais, inteligentes, críticos e corrosivos, porém fadados - por sua contundência - à conquista de um público restrito de intelectuais e cinéfilos. "Minha arte é popular", insiste Bianchi.

A ótima recepção de Cronicamente Inviável, seu mais recente longa, parece confirmar o que diz o cineasta. Ele sempre culpou a censura econômica pelas curtas temporadas, no circuito de exibição, de filmes como Mato Eles?, premiado nos festivais de Gramado e Brasília em 1982, Divina Previdência, também premiado em Gramado, Causa Secreta e Romance.

Com Cronicamente Inviável a situação não é muito diferente. O filme tem apenas cinco cópias no mercado e está em cartaz no Espaço Unibanco e no Cine Arte Lilian Lemmertz, em São Paulo, e no Estação Botafogo, no Rio. Mas, mesmo sem um grande lançamento publicitário, vem alcançando um número inesperado de espectadores - 7.205 em 19 dias no Espaço Unibanco - atraídos quase que exclusivamente pelo boca-a-boca.

`Pilantropia' - Nas sessões das 20 e das 22 horas de terça-feira, na sala 2 do Espaço Unibanco, o grande número de adolescentes surpreendia. Entre eles estavam as irmãs Ana Júlia e Beatriz, acompanhadas da mãe, Lígia Andrade de Carvalho. "Os professores do cursinho Etapa recomendaram o filme e eu vim trazê-las", diz Lígia ao Estado, na saída da sessão das 20 horas. Ela trabalha no Centro de Estudos do Terceiro Setor (Cets) da Fundação Getúlio Vargas, onde o filme também foi tema de discussão.

Integram o chamado terceiro setor as organizações não-governamentais (Ongs) e outras entidades da sociedade civil voltadas para as questões da cidadania. "Nossa preocupação no Cets é com a transparência dessas organizações", afirma Lígia. "Hoje, a caridade está na moda e o filme trata muito bem da chamada `pilantropia'", completa. "Nunca vi um filme que mostrasse tão bem o que é o Brasil", diz, com entusiasmo, Beatriz. "É tudo muito real e verdadeiro", acredita Ana Júlia.

Colegas de turma no Colégio Equipe, Natália Mendes, de 16 anos, Juliana Scharff, de 15, e Leila Albuquerque, de 14, convidaram Fernando Ziskind, de 15, para acompanhá-las ao cinema. "Elas tinham ouvido recomendação dos professores de algumas amigas, mas eu não tinha a mínima idéia do que seria o filme e gostei muito", diz Ziskind. "Há momentos em que o cineasta exagera, mas de propósito; é um exagero irônico, uma forma de mostrar melhor a realidade", argumenta. "O filme incomoda, eu saí meio abalada, mas é muito bom", diz Natália. "Já recomendei agora, pelo celular, à minha mãe", afirma Leila. Ziskind fez questão de protestar contra a classificação do filme - 18 anos -, que exige a companhia de um adulto. "Não há nada no filme que justifique essa censura."

A curta-metragista Andréa Pasquini foi ao cinema atraída pelos trabalhos anteriores de Bianchi, como Causa Secreta. "Pode não ser um filme perfeito do ponto de vista de fotografia ou da câmera", opina Andréa. "Mas, mais que ir atrás do produto bem-acabado, o cineasta precisa parar para pensar o seu país, o seu tempo." Ele credita ao olhar crítico que o diretor dirige ao País o motivo da atração que o filme vem exercendo entre os adolescentes. "O filme do Bianchi chacoalha."

A atriz Miriam Mehler foi surpreendida pelo Estado saindo da sessão das 22 horas. "É uma radiografia não só do Brasil, mas acho que do ser humano, do que ele é capaz de fazer; não somos nada cordiais", comenta Miriam. "A gente leva uma espécie de pancada, o Bianchi não dourou a pílula e por isso fez um filme importante, que eu recomendo."






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