Candido's Restaurante   Florentino Barra


    Ricardo Cota
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  • Cronicamente Inviável (Cronicamente Inviável)
    Gênero: Drama
    Estréia

    Um tapa
    Em Cronicamente inviável, Sérgio Bianchi (Romance, Causa secreta), sem meias palavras, ataca a letargia da classe média e os mais diversos mitos de brasilidade. A narrativa, que mescla ficção e documentário fake, compõe através do histórico de cada personagem um mosaico cruel da sociedade brasileira. O eixo da trama se situa na mesa de um restaurante, onde os comensais discutem o Brasil como se dele não fizessem parte. A partir desta conversa, Bianchi alça vôos anárquicos, filmando de Norte a Sul do país. Por onde passa, Cronicamente inviável tece comentários reveladores. Os mitos da felicidade baiana e do trabalho sulista, por exemplo, são apresentados como “uma perfeita forma de afirmação autoritária”. Já o Sambódromo é reduzido a um curral onde oprimidos reverenciam opressores. Brechtiano por excelência, Bianchi provoca o espectador ao incendiar a colméia do conformismo e da falta de solidariedade. Na sua visão do Brasil ilegal, aquele do tráfico de bebês, das crianças drogadas, da prostituição masculina, do servilismo doméstico, não existe espaço para altruísmos. Tudo se tornou de tal forma contrastante e fragmentado que mesmo as ongs e os movimentos dos trabalhadores são incapazes de ultrapassar a barreira que separa o discurso da ação. O cineasta cutuca ainda a burguesia, cujo ideal progressista não resiste a uma camisa mal-passada pela empregada. Dividido em esquetes, o filme tem pelo menos uma cena que poderia fazer parte de qualquer antologia do cinema brasileiro: a da mãe que diante do filho assaltado defende o infrator. Perturbadora, a sequência mostra como é difícil julgar num país inviabilizado pela injustiça. Uma paráfrase do Brasil, Cronicamente Inviável pode despertar amor ou ódio. Indiferença, jamais.