Locarno começa e mostra concorrentes
do Brasil
O 53º festival exibe 'Cronicamente
Inviável' e o vídeo 'O Livro de Raoul'
Otávio Magalhães/AE
Omar concorre com seu
vídeo na mostra Cineastas do Presente | |
| LUIZ CARLOS MERTEN
Todo mundo que vai ao Festival de Locarno diz a mesma coisa ao
explicar qual é a grande emoção da mostra na cidade suíça - os filmes que
passam na Praça Grande, numa imensa tela a céu aberto, para platéias de
7,5 mil espectadores. O circo de Locarno já está montado para o festival
do ano 2000, o de nº 53, que começa hoje e vai até o dia 12, distribuindo
no encerramento os Leopardos aos vencedores. Dois filmes brasileiros estão
entre os concorrentes - Cronicamente Inviável, de Sérgio Bianchi, e O
Livro de Raoul, de Arthur Omar. Este último integra a competição de vídeo,
numa seção do festival que leva o sugestivo título de Cineastas do
Presente. Como vem ocorrendo nos últimos anos, Locarno 2000 entregará um
Leopardo especial, homenageando um diretor por sua carreira. O homenageado
deste ano é o holandês voador de Hollywood - Paul Verhoeven, que vai
mostrar seu novo filme, Hollow Man, com Kevin Bacon e Elisabeth Shue, fora
de concurso (leia texto nesta página).
Bianchi tinha a possibilidade de mostrar seu filme no Festival de
Veneza.
Foi convidado para integrar uma das mostras paralelas do evento que se
realizam no Lido, nos primeiros dias de setembro. Preferiu levar seu
explosivo retrato do Brasil a Locarno, que tem uma tradição de difundir e
promover o cinema brasileiro na Europa. A seleção do festival suíço foi
organizada por Marco Müller, que foi jurado na Mostra de São Paulo no ano
passado. Müller também coordena a Fabrica, a divisão de cinema da
Benetton, que financia a finalização do novo filme de Laís Bodanzky, Bicho
de Sete Cabeças. Ele tem assessores que o ajudam a garimpar filmes em todo
o mundo.
Seu assessor para o cinema latino-americano é o brasileiro Paulo
Roberto Carvalho.
Dezenove filmes de 15 países disputam o grande prêmio do festival. Há
informações detalhadas sobre eles no site de Locarno na Net -
www.pardo.ch/.
O Leopardo será atribuído a diretores estreantes ou que estejam no
segundo filme. No site, o próprio Müller explica o conceito da mostra -
exibir e destacar o que de mais importante se faz no mundo, no sentido de
apontar tendências e incentivar o desenvolvimento das novas tecnologias.
Entre os filmes concorrentes estão o italiano Gonstanza da Libbiano, de
Paolo Benvenutti; Baise-Moi, da francesa Virgine Despantes, que passa em
Locarno depois de provocar polêmica na França - considerado pornográfico,
foi liberado somente para exibição num cinema de sexo explícito de Paris
-; o Hamlet do americano Michael Almereyda, no qual o célebre "ser ou não
ser" é recitado numa loja de vídeo; e Manila, do alemão Romuald Karmakar,
que solta seus personagens num aeroporto para discutir o que o diretor
chama de "descaminhos da alma".
E há o filme de Bianchi, claro, que passa na sexta e integra a
competição, embora o diretor não seja estreante. No site oficial do
festival, Cronicamente Inviável é definido como um filme que apresenta
fragmentos de seis vidas, confinadas e interligadas por meio das mesas e
dos pratos de um restaurante em São Paulo que termina servindo de suporte
para uma visão crítica dos problemas sociais no Brasil de hoje. O
português também é a língua de mais dois filmes que integram a mostra
competitiva de cinema (e representam Portugal) - A Raiz do Coração, de
Paulo Rocha, e No Quarto da Vanda, de Pedro Costa.
Arthur Omar terá concorrentes de peso na mostra de vídeo, na qual deve
exibir, nos dias 8, 9 e 10, seu trabalho sobre (e com) o cineasta
chileno-francês Raoul Ruiz. O italiano Marco Bellocchio concorre com dois
títulos, Un Filo di Passione e Nina, e mostra fora de concurso outros
dois, Lacrime e Sorelle. Considerado um dos grandes diretores de teatro da
França, Olivier Py sai diretamente de Avignon - onde sua nova peça faz
sensação - para concorrer em Locarno com o vídeo Les Yeux Fermés, uma
versão hard core de Les Nuits Fauves, baseada na ligação de dois homens. E
há La Commune, do inglês Peter Watkins, que usa o episódio da Comuna de
Paris para fazer pesquisas de linguagem e política em vídeo.
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